Pindamonhangaba fica de fora de mais um grande projeto que resgata a história e gera desenvolvimento para a região

Os desbravadores da Rota dos Tropeiros. Ilustrado por Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

 

Caminho do ouro paulista é reconhecido como patrimônio cultural, mas a prefeitura ignora mais uma oportunidade de desenvolver a cidade e uma região cheia de história e potencial turístico

Um caminho mais antigo que a estrada real

Pouca gente sabe, mas Pindamonhangaba está diretamente ligada a um dos caminhos mais antigos e importantes do Brasil colonial: o caminho do ouro paulista. Uma rota histórica que ligava o litoral de Parati às vilas do Vale do Paraíba, cruzando diretamente nosso território.

E, mais uma vez, a prefeitura de Pindamonhangaba fica de fora de um projeto de resgate histórico, cultural e econômico que envolve nossa cidade e toda a região.

Enquanto municípios como Taubaté, Lagoinha e Cunha se organizam, participam, debatem e buscam investimentos, Pindamonhangaba segue calada, de braços cruzados, deixando mais uma oportunidade escapar.

O caminho do ouro paulista surge no final do século XVI, mais precisamente em 1596, quando o governador geral do Brasil, D. Francisco de Sousa, enviou Martim Correia de Sá para abrir uma trilha saindo do Rio de Janeiro, passando por Parati, subindo a Serra do Mar, até o Vale do Paraíba.

Por esse caminho passaram sertanistas, bandeirantes, comerciantes e, mais tarde, o ouro das Minas Gerais. É uma rota mais antiga até que a estrada real, muito mais conhecida nos livros de história.

O ouro que saía das Minas Gerais seguia por Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Taubaté, Lagoinha e Cunha, até o porto de Parati e, de lá, rumo ao Rio de Janeiro e à Europa.

Pindamonhangaba era muito mais do que uma passagem

O documento histórico deixa claro que Pindamonhangaba não era apenas um ponto de passagem, mas um elo essencial nessa rota.

As sesmarias registradas nos inventários do século XVII e XVIII mostram que os grandes proprietários da época, muitos deles figuras centrais da história paulista, tinham terras e negócios aqui.

Um deles era Brás Esteves Leme, alcaide-mor de Pindamonhangaba, equivalente a prefeito da época. Figura que aparece frequentemente nos documentos históricos, ele não era só autoridade, mas também um dos grandes responsáveis por abrir e manter caminhos, fazer negócios e garantir o fluxo de riquezas na região.

Outro nome citado nos inventários é João do Prado Martins, proprietário de terras que iam desde o Salto Grande (Faxinal) até a região de Capivari, mostrando como as terras de Pindamonhangaba e seu entorno estavam diretamente ligadas à manutenção do caminho do ouro.

O caminho do ouro paulista tinha como eixo principal a rota: Parati, Cunha, Lagoinha, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá e, então, Minas Gerais. Além disso, há registros de ramificações importantes, como uma passagem pela região de Capivari, que fazia conexão com outras trilhas rumo à Serra do Mar.

Esses caminhos não eram apenas trilhas de tropeiros. Eram verdadeiras artérias econômicas do Brasil colonial, por onde circulavam riquezas, mantimentos, informações e, infelizmente, também o tráfico de pessoas escravizadas.

A pesquisa que resgatou a história esquecida

A historiadora Lia Carolina Prado Alves Mariotto, autora do estudo “Em busca de um roteiro esquecido”, realizou uma pesquisa minuciosa baseada em documentos do Arquivo Histórico de Taubaté, mapas do IBGE, mapas do Arquivo do Exército e registros de sesmarias.

A partir desse levantamento, ela comprovou a existência e o traçado desse caminho, reafirmando o papel de Pindamonhangaba como parte integrante e relevante dessa rota histórica.

O estudo também comprova que o caminho está registrado em mapas oficiais desde 1766, além de constar na carta corográfica da Capitania de São Paulo e em diversos documentos do Arquivo Histórico do Exército.

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O reconhecimento oficial e o silêncio da prefeitura

Diante de toda essa importância histórica, tramita na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo o Projeto de Lei nº 94/2023, que reconhece oficialmente o caminho do ouro paulista como de relevante interesse cultural do estado.

O projeto permite que os municípios se unam em consórcios para planejar, preservar e explorar de forma sustentável essa rota, que não é apenas memória — é também uma fonte concreta de desenvolvimento econômico, geração de empregos e fortalecimento do turismo.

Apesar de estar no coração desse caminho histórico, Pindamonhangaba, mais uma vez, não participa, não debate, não organiza, não lidera absolutamente nada.

Uma cidade com tanta história, que foi essencial na formação do Vale do Paraíba e na interiorização do Brasil, assiste de camarote mais uma oportunidade escapar.

Uma cidade construída no caminho da história

Pindamonhangaba não é uma cidade qualquer. Sua história está diretamente ligada ao processo de ocupação do interior paulista, à formação do Vale do Paraíba e às rotas econômicas do período colonial.

O próprio nome, de origem tupi, significa "lugar onde se fazem anzóis" ou "onde o rio se curva", referência direta à geografia e aos povos indígenas que aqui viviam muito antes dos colonizadores.

Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, Pindamonhangaba virou ponto estratégico, sendo caminho obrigatório no transporte do ouro, mantimentos e riquezas que seguiam do interior até o litoral.

Por aqui passaram sertanistas, bandeirantes, comerciantes e autoridades que construíram não só trilhas, mas cidades, vilas e toda a base econômica que sustentou o Brasil colonial.

Uma oportunidade de ouro para uma região esquecida

O caminho do ouro paulista não é só passado. É presente. É futuro. É uma oportunidade real de desenvolvimento econômico sustentável, geração de empregos e fortalecimento da identidade cultural da cidade.

Mais do que isso, é uma chance concreta de valorizar uma região inteira de Pindamonhangaba que ainda hoje é pouco explorada, pouco reconhecida, mas que é riquíssima em história, cultura e potencial turístico.

Regiões como Pinhão do Borba, Goiabal e Shangrilá, que fazem parte desse território histórico, carregam não apenas memórias do passado, mas também um enorme potencial para se tornarem polos de turismo histórico, rural, ecológico e gastronômico.

São áreas que poderiam ser profundamente transformadas através de trilhas históricas, roteiros turísticos, geração de renda e fortalecimento da economia local. Mas, mais uma vez, a prefeitura deixa passar um projeto que poderia colocar Pindamonhangaba no mapa do turismo histórico nacional e internacional.

Fica o questionamento: até quando Pindamonhangaba vai assistir de camarote as oportunidades passando? Se há vontade, há um caminho. Mas, infelizmente, parece que, por aqui, falta a vontade.


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CAMINHO ANTIGO DO OURO


Gustavo Felipe Cotta Tótaro - CLICK AQUI

Tecnólogo Gestão de Negócios e Inovação - Faculdade de Tecnologia José Renato Guaycuru San Martim. ( Fatec Pindamonhangaba)   

Técnico em Contabilidade - Escola Técnica João Gomes de Araujo de Pindamonhangaba/SP

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