O Festival Tropeiro 2025, realizado em Pindamonhangaba entre os dias 10 e 13 de julho, atraiu cerca de 80 mil pessoas ao Parque da Cidade para celebrar os 320 anos do município, conforme divulgado pelo jornal Tribuna do Norte, veículo oficial de comunicação da Prefeitura. Shows de grandes artistas, concursos culturais e uma praça de alimentação com pratos típicos marcaram o evento. No entanto, a arrecadação de apenas 20 toneladas de alimentos não perecíveis e 1 tonelada de ração animal, também informada pela Tribuna do Norte como parte do "ingresso solidário" para acesso aos shows principais, gerou indignação e desconfiança. A campanha de marketing, veiculada por redes sociais e faixas espalhadas pela cidade, é agora questionada por sua abordagem possivelmente enganosa e pela falta de transparência nos números divulgados.
Uma propaganda que sugeria a troca de ingressos por doações
A organização do festival promoveu intensamente a troca de 1 kg de alimento não perecível ou ração animal por ingressos, utilizando redes sociais e faixas instaladas pela cidade. A campanha destacava frases como "Troque seu ingresso por 1 kg de alimento" e "Participe doando um alimento", sem menção a entrada gratuita, o que levava o público a entender que a doação era a única forma de acesso aos shows principais. Pontos de troca foram estabelecidos em locais como o Fundo Social de Solidariedade e subprefeituras, com a opção de doar na entrada do evento para ingressos remanescentes. Embora a obrigatoriedade não fosse explicitamente declarada, a comunicação sugeria fortemente que a doação era indispensável, criando a expectativa de uma arrecadação proporcional ao número de visitantes.
Com 80 mil pessoas presentes, conforme publicado pela Tribuna do Norte, a expectativa era de uma coleta muito superior às 20 toneladas de alimentos e 1 tonelada de ração animal anunciadas. Se cada participante doasse ao menos 1 kg, como sugerido pela campanha, a arrecadação deveria se aproximar de 80 toneladas. O resultado final, equivalente a apenas 25% do esperado, levanta dúvidas sobre a eficácia da fiscalização e a veracidade das informações prestadas. A propaganda, que destacava a solidariedade como pilar do evento, agora é vista por muitos como tendenciosa, criando uma percepção equivocada sobre o impacto real das doações.
Números que não convencem
A baixa arrecadação de alimentos é o principal ponto de controvérsia. A organização informou, por meio da Tribuna do Norte, que as 20 toneladas serão destinadas a famílias em vulnerabilidade e a protetores de animais, mas não apresentou detalhes sobre o processo de coleta, armazenamento ou distribuição. A ausência de um relatório público com dados específicos como a quantidade arrecadada por dia ou os responsáveis pela logística alimenta especulações sobre possíveis falhas ou irregularidades. Como foi possível que, com a doação sendo apresentada como necessária para a troca de ingressos, apenas uma fração do público tenha contribuído? Ou, se todos doaram, para onde foi o restante dos alimentos?
A falta de clareza também se estende ao controle de acesso. Não há informações detalhadas sobre como as doações foram verificadas na entrada do evento. A discrepância entre o público estimado e a quantidade arrecadada, ambos divulgados pela Tribuna do Norte, sugere que o sistema de troca pode não ter sido aplicado com o rigor prometido, ou que os números divulgados não refletem a realidade.
Um eco de problemas nacionais
O caso remete a denúncias recentes no Rio Grande do Sul, onde desvios de doações para vítimas das enchentes de 2024 resultaram em investigações do Ministério Público. Embora não haja, até o momento, evidências de irregularidades em Pindamonhangaba, o precedente reforça a necessidade de transparência. A população cobra um relatório detalhado e a possível realização de uma auditoria independente para garantir que os alimentos doados cheguem aos destinatários prometidos.
O que falta para restaurar a confiança?
O Festival Tropeiro 2025 foi um sucesso cultural, mas a baixa arrecadação de alimentos e a propaganda que sugeria a necessidade de doação para obter ingressos deixaram um gosto amargo. A comunidade, que participou com entusiasmo, sente-se enganada diante dos números apresentados no jornal Tribuna do Norte. A Prefeitura precisa agir rapidamente, divulgando um balanço detalhado e adotando medidas que assegurem a transparência, como a publicação de comprovantes de entrega das doações e a criação de um sistema de fiscalização mais robusto para eventos futuros.
Enquanto respostas claras não forem apresentadas, a credibilidade do "ingresso solidário" permanece abalada. A solidariedade, tão celebrada na divulgação do festival, merece ser tratada com o respeito que a população demonstrou ao doar. Cabe agora à organização transformar promessas em ações concretas, para que o espírito festivo do Tropeiro não seja ofuscado por dúvidas e desconfianças.
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